Entre os dias 27 de junho e 6 de julho de 2025, milhões de fiéis tomaram as ruas de Trindade (GO) durante a tradicional Romaria do Divino Pai Eterno. Entre as inúmeras comitivas que chegaram à chamada Capital da Fé, uma em especial atraiu a atenção: a Romaria da Fé de Alexânia, município do Entorno do Distrito Federal, que percorreu quase 190 quilômetros em uma jornada marcada por devoção, resistência e simbolismo religioso.
Partindo da Igreja Imaculado Coração de Maria, a comitiva foi liderada por Luciano Roriz e Alessandro Dutra, nomes já conhecidos na organização de peregrinações da cidade. A caminhada seguiu o trajeto histórico conhecido como Caminho dos Romeiros, por onde passaram, ao longo da década, milhares de devotos guiados pela fé e tradição.
Além dos organizadores, a romaria contou com a participação de figuras como Armando Rolemberg, Varlan e outros membros da comunidade, que, juntos, reviveram momentos de oração, reflexão e espiritualidade ao longo do percurso. Os romeiros dedicaram-se à Via Sacra durante a jornada, trazendo à tona passagens bíblicas e fortalecendo o laço espiritual que une os fiéis nesta demonstração pública de fé.
“Caminhar juntos é fortalecer nossa fé e manter viva a chama da tradição”, afirmou Armando Rolemberg, um dos participantes mais ativos da comitiva. A fala resume o espírito da romaria: um ato coletivo de entrega, gratidão e esperança, repetido ano após ano por grupos que se recusam a deixar a tradição cair no esquecimento.
Tradição que atravessa gerações
A Romaria do Divino Pai Eterno tem origem em um episódio do século XIX, quando o casal de agricultores Constantino e Ana Rosa Xavier encontrou, em suas terras, um medalhão com a imagem da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria. A descoberta deu início ao culto do Divino Pai Eterno em Trindade, que logo se tornou destino de peregrinações e atualmente atrai milhões de devotos de todas as partes do Brasil.
A comitiva de Alexânia resgata essa história a cada passo, reforçando os valores de fé, humildade e superação. A simplicidade dos participantes, muitos deles agricultores e trabalhadores da região, confere autenticidade ao ato religioso e emociona os que acompanham a chegada dos romeiros à cidade goiana.
Reconhecimento e homenagem
Um dos momentos mais marcantes da caminhada foi a homenagem prestada ao romeiro João Roriz, reconhecido por sua trajetória de compromisso com a manutenção da romaria e por ser uma inspiração constante para os novos peregrinos. O gesto emocionou os participantes e reforçou a importância da valorização daqueles que dedicam suas vidas à propagação da fé.
A homenagem foi conduzida durante uma das pausas do percurso, em um momento de oração e silêncio que demonstrou a profunda ligação espiritual entre os romeiros. "João Roriz é símbolo de perseverança e fé. Homenageá-lo é também reconhecer a força coletiva que sustenta essa tradição", afirmou um dos organizadores.
Chegada à Basílica
A chegada da comitiva à Basílica do Divino Pai Eterno foi marcada por emoção e lágrimas. A praça do santuário estava tomada por milhares de fiéis, que se uniram em cânticos e orações. Para os romeiros de Alexânia, o momento representou não apenas o fim de uma longa caminhada, mas também a renovação de um pacto espiritual coletivo.
"É impossível descrever o que sentimos ao ver a Basílica após tantos dias caminhando. É como se todo o cansaço desaparecesse", disse uma das romeiras. "Estamos aqui para agradecer, renovar a esperança e pedir bênçãos para nossas famílias."
Exemplo de fé viva
A Romaria da Fé de Alexânia reafirma a relevância das manifestações populares de religiosidade no Brasil. Num tempo em que a rotina moderna tende a afastar as pessoas de práticas tradicionais, a caminhada dos fiéis goianos mostra que a espiritualidade ainda ocupa um lugar central na vida de muitas comunidades.
Mais do que uma peregrinação, o trajeto de Alexânia a Trindade é uma experiência de reencontro com a própria fé, com a história e com os valores que moldam a vida coletiva. A cada quilômetro percorrido, os romeiros resgatam um Brasil profundo, onde a devoção e a simplicidade ainda movem multidões.
Com a edição de 2025 da Romaria encerrada, a expectativa já se volta para o próximo ano. Os organizadores da comitiva afirmam que continuarão trabalhando para manter viva a tradição, incentivando a participação de jovens e reforçando a importância de preservar os costumes que atravessam gerações.
"Enquanto houver fé, haverá romaria", conclui Luciano Roriz.
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