O Parque Estadual Águas do Paraíso (Peap), em Alto Paraíso de Goiás, tornou-se o novo epicentro de uma iniciativa que une ciência, sustentabilidade e geração de renda. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) iniciou a criação de um inventário detalhado sobre a avifauna da região com o objetivo de fomentar o turismo de observação de aves, ou birdwatching, atividade que tem ganhado cada vez mais espaço no cenário mundial.
O projeto, desenvolvido em parceria com o grupo “Oia Passarinhar”, é conduzido pelo ornitólogo Marcelo Lisita Junqueira e já resultou em dados promissores: nas primeiras campanhas de campo, realizadas em janeiro e abril de 2025, foram identificadas 159 espécies de aves — incluindo registros inéditos para o município. Entre os destaques estão o Suiriri-da-chapada e a Meia-lua-do-Cerrado, além de espécies ameaçadas de extinção como o Tico-tico-de-máscara-negra, Campanhia-azul e o Mineirinho.
“O objetivo é gerar conhecimento científico e, ao mesmo tempo, fomentar uma cadeia de turismo sustentável que beneficie diretamente as comunidades locais”, explicou a Semad, em nota. O inventário será atualizado a cada dois meses até o fim do ano, garantindo mais chances de registrar espécies raras e sazonalmente migratórias.
Do Cerrado para o mundo: um guia de bolso para observadores
Como produto final do levantamento, será lançado um guia de bolso ilustrativo contendo a lista completa das aves observadas no parque. O material será distribuído gratuitamente para guias turísticos e condutores locais, com o intuito de capacitar a mão de obra regional e preparar Alto Paraíso para receber turistas brasileiros e estrangeiros apaixonados pela atividade.
Essa é uma estratégia que une conservação e desenvolvimento: ao preservar áreas naturais e promover a observação de aves como atividade econômica viável, a região se posiciona dentro das tendências mundiais de turismo de contemplação, com baixo impacto ambiental e alto valor agregado.
Capacitação de moradores como guias de turismo ambiental
A segunda etapa do projeto, prevista para o segundo semestre de 2025, prevê a realização de oficinas de conscientização e capacitação para moradores de assentamentos rurais no entorno do parque. Os encontros serão conduzidos por ornitólogos do “Oia Passarinhar” e utilizarão uma cartilha desenvolvida especialmente para esse público.
As oficinas terão caráter teórico e prático, abordando desde o conhecimento das espécies até técnicas de condução de grupos de turistas e práticas de conservação ambiental. A meta é formar uma rede de guias comunitários preparados para atuar na recepção de visitantes, gerando emprego e renda de forma integrada com a natureza.
Birdwatching: tendência global e potencial econômico
A observação de aves não é apenas uma atividade de lazer: é um segmento turístico em plena expansão. Países como Estados Unidos e membros da União Europeia já movimentam bilhões de dólares anualmente com o birdwatching. Um estudo do Departamento de Pesca e Vida Selvagem dos EUA apontou que, em 2016, a prática movimentou cerca de US$ 80 bilhões por ano.
Com quase 2 mil espécies registradas, o Brasil é o segundo país com maior diversidade de aves do planeta, atrás apenas da Colômbia. Isso representa 18% das espécies globais e mais da metade das que existem na América do Sul. O Cerrado brasileiro, por sua vez, abriga aproximadamente 840 dessas espécies — número expressivo que coloca a região entre os principais destinos potenciais para a atividade.
Além de seu valor ecológico, o Cerrado tem atributos únicos: vastas paisagens abertas, facilidade de visualização das espécies e rica biodiversidade adaptada ao bioma. “Temos uma joia nas mãos, com um potencial turístico ainda pouco explorado. Ao investir em estrutura e capacitação, abrimos uma nova frente de desenvolvimento para Alto Paraíso e região”, afirma Marcelo Junqueira.
Conservação como chave para o sucesso
O sucesso da atividade de observação de aves está diretamente ligado à preservação dos habitats naturais. Quanto mais conservado o ambiente, maior a diversidade de aves e, consequentemente, maior o interesse de observadores — amadores ou profissionais. Essa lógica faz da preservação uma aliada direta do desenvolvimento econômico, criando um ciclo virtuoso entre meio ambiente e turismo.
Nesse contexto, a iniciativa da Semad busca não apenas ampliar o conhecimento científico sobre a fauna local, mas criar as bases para um turismo regenerativo, em que os visitantes contribuem com a proteção da biodiversidade enquanto desfrutam de experiências autênticas.
Alto Paraíso reforça vocação como destino ecológico
Conhecida por sua natureza exuberante e inserida na área de influência da Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso de Goiás já possui vocação consolidada para o ecoturismo. Com a valorização do birdwatching, a cidade poderá diversificar sua oferta turística, atraindo um novo perfil de viajante: aquele que busca experiências ligadas à contemplação da natureza e à preservação ambiental.
A aposta da Semad e dos parceiros do projeto é que o Parque Estadual Águas do Paraíso se torne um destino referência para a observação de aves no Cerrado, a exemplo de locais como o Pantanal e a Serra da Canastra, que já recebem observadores de diversas partes do mundo.
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