Formosa (GO) – O Ministério Público de Goiás (MPGO) deflagrou nesta segunda-feira (24) a Operação Radiador, voltada à apuração de fraudes em processos licitatórios, corrupção ativa e passiva e desvio de recursos públicos. O foco das investigações recai sobre servidores da SANEAGO (Saneamento de Goiás S.A.) e empresários da empresa SENDA, sediada em Formosa (GO), no entorno do Distrito Federal.
Ao todo, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em diferentes municípios goianos e no Distrito Federal: Goiânia, Brasília, Águas Lindas de Goiás, Cocalzinho, Luziânia, Mimoso e Padre Bernardo. Como medida cautelar, 12 servidores da SANEAGO foram afastados de suas funções por um período inicial de 180 dias.
Contrato milionário sob suspeita
O contrato sob investigação ultrapassa a cifra de R$ 10 milhões e foi firmado para o fornecimento de caminhões-pipa à estatal goiana. Segundo as apurações iniciais, a empresa SENDA teria recebido os valores acordados sem executar integralmente os serviços, com a conivência e apoio de servidores da estatal.
De acordo com o MPGO, há indícios de que o grupo atuava de forma organizada para fraudar licitações e favorecer a empresa, desviando verbas públicas e comprometendo os serviços de abastecimento de água em diversas cidades do entorno do DF.
Relação com a Operação Nabucodonosor
Os empresários da SENDA já figuram como réus em outra investigação do Ministério Público, a Operação Nabucodonosor, que também apura irregularidades na gestão de contratos com entes públicos. Essa nova fase investigativa reforça o que o MPGO descreve como “um modus operandi reiterado” no favorecimento da empresa em processos licitatórios.
A repetição do nome da SENDA em diferentes inquéritos acende um alerta para possíveis esquemas estruturados de corrupção que podem ter ramificações em outros contratos e municípios.
Apoio de forças estaduais e federais
A Operação Radiador contou com apoio logístico e operacional da Polícia Militar de Goiás (PMGO), Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Polícia Civil de Goiás (PCGO), do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e do Centro de Segurança Institucional (CSI).
As equipes atuaram de forma simultânea nas sete cidades-alvo da operação, garantindo o cumprimento dos mandados judiciais expedidos pela Justiça Estadual. Foram apreendidos documentos, computadores, celulares e outros materiais que agora passarão por análise técnica.
Investigação pode alcançar agentes políticos
Segundo o MPGO, o material apreendido será fundamental para aprofundar a investigação e poderá revelar a eventual participação de agentes políticos no esquema criminoso. A suspeita é de que algumas contratações tenham ocorrido com influência externa e favorecimento político, ampliando o alcance e a gravidade do caso.
Promotores envolvidos na operação informaram que o objetivo, neste momento, é preservar as provas e estancar o dano ao erário público, além de identificar todos os envolvidos direta ou indiretamente.
Transparência e controle
A SANEAGO, por meio de nota oficial, informou que irá colaborar com as investigações e que já instaurou um processo administrativo interno para apurar a conduta dos servidores envolvidos. A estatal reiterou seu compromisso com a transparência e afirmou que medidas serão tomadas para evitar que situações semelhantes ocorram novamente.
Já o Ministério Público reforçou que as investigações seguem sob sigilo judicial nesta fase, para não comprometer a obtenção de provas e a identificação de outros envolvidos.
Impactos na prestação de serviços
A prestação dos serviços de fornecimento de água por meio de caminhões-pipa está sendo reavaliada pela direção da SANEAGO, que pretende realizar uma nova contratação emergencial para evitar prejuízos à população, especialmente em municípios com histórico de escassez hídrica.
Desdobramentos esperados
A expectativa é que, com a análise dos materiais recolhidos, novas denúncias sejam oferecidas à Justiça nos próximos dias. Os promotores não descartam pedidos de prisão preventiva, se forem identificados riscos à instrução do processo.
Especialistas ouvidos informalmente destacam a importância de se investigar a fundo possíveis relações entre empresas privadas e servidores públicos no setor de infraestrutura e abastecimento — áreas frequentemente expostas à corrupção devido aos altos valores envolvidos e à urgência dos contratos.
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