Um novo episódio de impacto ambiental coloca novamente Padre Bernardo, cidade do Entorno do Distrito Federal, no centro das discussões sobre a gestão de resíduos sólidos em Goiás. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) determinou o embargo do aterro sanitário operado pela empresa Ouro Verde após o desmoronamento de uma montanha de lixo no local, que resultou na contaminação do córrego Santa Bárbara, afluente do rio do Sal.
A decisão foi tomada após a constatação de que os resíduos escorreram diretamente para o leito d’água, provocando sérios danos ao meio ambiente e colocando em risco a saúde da população local. Em nota, a Semad classificou o episódio como “grave” e afirmou que o acidente representa um fato novo, suficiente para justificar a suspensão imediata das atividades do aterro.
“A contaminação do córrego Santa Bárbara é um desastre ambiental com impactos que ainda precisam ser medidos. Trata-se de uma situação inadmissível, que exige ação rápida e efetiva”, declarou a pasta.
Histórico de embates e impunidade jurídica
Apesar de reiteradas tentativas do governo estadual de fechar o aterro nos últimos anos, a Justiça tem, sistematicamente, autorizado a continuidade das atividades da empresa Ouro Verde. A situação revela um impasse entre o poder público e o Judiciário, agravado por falhas estruturais que culminaram no acidente recente.
Segundo fontes ligadas à Semad, o aterro já apresentava sinais de má gestão, acúmulo excessivo de resíduos e fragilidade nas contenções, o que pode ter contribuído para o colapso da estrutura.
Reações de entidades especializadas
A repercussão do deslizamento ganhou força após posicionamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), que repudiou o ocorrido e cobrou providências rigorosas.
“O desmoronamento do aterro sanitário de Padre Bernardo é mais do que um acidente — é reflexo da ausência de fiscalização adequada e de políticas públicas eficazes. É imprescindível investigar os responsáveis e adotar ações emergenciais de reparação”, destacou a entidade em nota.
A Abes também cobrou o fortalecimento de políticas públicas voltadas à gestão sustentável dos resíduos sólidos em Goiás, destacando que episódios como este são evitáveis se houver planejamento e rigor na execução das normas ambientais.
Programa ‘Lixão Zero’ como resposta do Estado
Em resposta à gravidade do caso, a Semad voltou a defender a ampliação do programa estadual “Lixão Zero”, que prevê o encerramento de todos os cerca de 186 lixões ainda em operação no estado de Goiás. O programa estabelece critérios técnicos para a destinação correta de resíduos e para a implantação de aterros que atendam aos requisitos de segurança ambiental.
A proposta é considerada essencial para prevenir novos episódios como o de Padre Bernardo. “Temos um problema estrutural que se arrasta há anos. O encerramento dos lixões e a adequação dos aterros são urgentes”, afirmou a secretaria.
Riscos à saúde e ao meio ambiente
O impacto da contaminação do córrego Santa Bárbara ainda está sendo avaliado por técnicos da Semad. Há preocupação com a possível infiltração de chorume — líquido tóxico oriundo da decomposição do lixo — no lençol freático e em áreas agrícolas próximas.
A água do córrego deságua no rio do Sal, importante para o abastecimento de comunidades ribeirinhas e uso agropecuário. Com a contaminação, cresce o risco de doenças e de prejuízos econômicos para produtores rurais da região.
A prefeitura de Padre Bernardo ainda não se pronunciou oficialmente sobre o embargo. Moradores próximos ao aterro relatam mau cheiro, aparecimento de insetos e apreensão quanto aos possíveis efeitos da contaminação.
Embargo como medida emergencial e simbólica
A decisão da Semad, além de uma medida de contenção imediata, tem forte valor simbólico. Representa uma cobrança por mais responsabilidade na operação de sistemas de resíduos e por maior atenção do Judiciário a questões ambientais sensíveis, especialmente em áreas periféricas do estado, como o Entorno do Distrito Federal.
“A ausência de ação efetiva agora pode custar caro para as gerações futuras. É preciso aprender com o ocorrido e tratar a questão com a seriedade que exige”, completou a nota da Semad.
Enquanto isso, técnicos ambientais e engenheiros sanitários trabalham para mapear a extensão dos danos e definir as ações emergenciais de contenção e limpeza do córrego. O Ministério Público de Goiás deve ser acionado para acompanhar o caso.
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