O Brasil subiu 47 posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2025, elaborado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), e figura agora entre os países com melhora significativa no cenário global. A lista, que avalia a situação da imprensa em 180 países, revelou que seis em cada dez nações apresentaram retrocessos neste ano, reforçando a relevância do avanço brasileiro.
O relatório divulgado nesta semana aponta que as condições para o exercício do jornalismo são hoje consideradas “ruins” em metade dos países avaliados e “satisfatórias” em menos de um quarto deles. O desempenho brasileiro, portanto, destaca-se como um ponto fora da curva em um panorama internacional predominantemente negativo.
Segundo Artur Romeu, diretor do escritório da RSF para a América Latina, o Brasil passa atualmente por um período de relações mais amistosas entre o poder público e os veículos de comunicação. “Estamos observando um ambiente mais cordial com os meios de comunicação, o que tem contribuído para a melhora dos indicadores no país”, afirmou.
Indicadores e critérios do ranking
A metodologia do ranking da RSF se baseia em cinco indicadores: político, social, econômico, marco legal e segurança. A pontuação final de cada país resulta da média ponderada desses fatores, permitindo uma avaliação abrangente da liberdade de imprensa em diferentes contextos.
Apesar do avanço brasileiro, o relatório alerta para ameaças persistentes. Uma das principais é o enfraquecimento econômico das empresas jornalísticas, fenômeno global que afeta diretamente a independência editorial. “Os meios de comunicação estão divididos entre garantir sua independência e lutar por sua sobrevivência econômica. A independência financeira é uma condição vital para assegurar uma informação livre, confiável e voltada para o interesse público”, destacou o relatório.
Brasil se destaca em meio a cenário global de deterioração
Enquanto o Brasil avança, países historicamente bem posicionados enfrentaram quedas expressivas no ranking. O relatório de 2025 registra que, pela primeira vez desde que o levantamento foi criado, há mais países com avaliação negativa do que positiva no que diz respeito à liberdade jornalística.
Esse panorama evidencia um retrocesso generalizado na liberdade de expressão e no direito à informação. A RSF destaca que governos autoritários, a desinformação nas redes sociais e a concentração econômica nos meios de comunicação estão entre os fatores que mais contribuem para esse declínio.
Melhora brasileira pode estar ligada a mudanças políticas e institucionais
Especialistas consultados apontam que o avanço brasileiro pode estar relacionado a transformações recentes no ambiente político e institucional do país. Desde o fim de 2022, o Brasil passou por uma reconfiguração no cenário federal, com novas diretrizes de comunicação e um discurso público menos hostil à imprensa.
Além disso, o fortalecimento de políticas públicas voltadas à transparência e ao acesso à informação também contribuiu para a melhora nos indicadores analisados pela RSF. Leis como a de Acesso à Informação, criadas há mais de uma década, passaram a ser mais respeitadas e executadas com maior rigor, segundo análises do setor.
Desafios persistem: violência contra jornalistas e precarização do trabalho
Apesar da melhora no ranking, a realidade do jornalismo brasileiro ainda enfrenta obstáculos significativos. Casos de violência contra profissionais da imprensa, especialmente fora dos grandes centros urbanos, continuam sendo registrados. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) alerta que ataques físicos e virtuais persistem, sobretudo contra mulheres e comunicadores que atuam em comunidades periféricas.
A precarização das condições de trabalho, agravada pela crise econômica e pelo avanço de modelos digitais baseados em plataformas, também representa uma ameaça concreta. A RSF ressalta que, sem apoio institucional e investimentos estruturantes, o avanço conquistado pelo Brasil pode ser rapidamente revertido.
Liberdade de imprensa como termômetro da democracia
Para a Repórteres Sem Fronteiras, a liberdade de imprensa é um dos principais termômetros do funcionamento democrático. “Sem jornalismo livre, a democracia adoece”, afirma o documento. Nesse sentido, o avanço brasileiro em 2025 é um sinal de fortalecimento institucional, mas que ainda demanda vigilância constante da sociedade civil, dos próprios profissionais da imprensa e dos órgãos de regulação.
Expectativa é de manutenção e aprimoramento dos indicadores
A expectativa da ONG e de entidades brasileiras ligadas ao jornalismo é de que o Brasil consiga manter e até aprimorar sua posição nos próximos anos. Para isso, será essencial investir na proteção dos profissionais de comunicação, combater a desinformação e garantir modelos sustentáveis de financiamento para a imprensa.
Enquanto isso, a experiência brasileira de 2025 serve como exemplo positivo em um cenário global cada vez mais adverso. O salto de 47 posições não representa apenas um dado estatístico, mas sim uma conquista que reflete a importância do jornalismo livre para a construção de uma sociedade mais justa, informada e democrática.
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