A descoberta de um cemitério com mais de 200 anos durante as obras de restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, é um marco importante para a história da cidade e do estado de Goiás.
As ossadas de cerca de 150 pessoas, possivelmente africanos escravizados e negros libertos, trazem à tona aspectos significativos da formação cultural e social de Goiás. A identificação dos sepultamentos, tanto dentro da igreja quanto ao seu redor, oferece uma visão valiosa sobre o passado, especialmente em relação à presença e contribuição de negros na construção da história do estado e do país.
Yara Nunes, secretária de Estado da Cultura, destacou a importância desse achado como uma oportunidade de resgatar a memória histórica de uma época crucial e reforçar a preservação do patrimônio cultural. Além disso, as escavações, iniciadas em abril de 2024, fazem parte de um projeto financiado pelo Governo de Goiás, com um investimento de R$ 3,5 milhões.
A descoberta traz à tona as histórias de vidas que, muitas vezes, ficaram à margem da narrativa oficial, mas que são fundamentais para a compreensão da formação cultural de Goiás e do Brasil.
Wagner Magalhães, arqueólogo responsável pelo projeto, acrescenta detalhes importantes sobre a descoberta. Ele explica que um sepultamento foi encontrado de forma atravessada embaixo da escada da igreja, o que indica que a escada atual não é a original da construção.
Além disso, em alguns locais, foram encontradas sobreposições de esqueletos, o que sugere que as covas eram utilizadas de maneira contínua ao longo do tempo. Esse tipo de achado revela a dinâmica de sepultamentos ao longo dos séculos e oferece novos insights sobre as práticas funerárias na época, além de destacar a adaptabilidade e as mudanças no uso do espaço ao longo da história da igreja.
Mistérios de Jaraguá: Cemitério Descoberto na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Pode Datar de 1776
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, localizada em Jaraguá, Goiás, foi construída em 1776 pela irmandade de negros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Recentemente, arqueólogos descobriram um cemitério na área da igreja, que pode datar dessa mesma época, e os sepultamentos estão sendo associados à população negra que viveu na cidade. A igreja, dedicada aos negros, foi um importante marco na história local, especialmente pela contribuição significativa da população africana na formação de Jaraguá e no desenvolvimento das minas de ouro. Este achado arqueológico resgata parte dessa história, revelando um pouco sobre as origens da cidade e a importante participação dos povos africanos naquele contexto.
A exumação das ossadas em condições precárias devido ao solo úmido está proporcionando uma análise detalhada, que visa esclarecer informações como sexo, faixa etária e outros dados históricos dos indivíduos. A arqueóloga Elaine Alencastro destaca a importância dessa descoberta, que não só é inédita, mas também desperta questões sobre a memória dessas pessoas e o contexto histórico envolvido.
Após as análises, a Secretaria de Cultura (Secult), em colaboração com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), planeja uma ação de educação patrimonial no local. A superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico da Secult, Bruna Arruda, revela que, além dos tapumes educativos já presentes nas obras, será montada uma estrutura dentro da igreja para permitir que a população conheça mais sobre a história que ficou oculta por tanto tempo.
A restauração da igreja continua em andamento, com previsão de conclusão para 2025.
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