
Em entrevista exibida neste domingo (2) no Fantástico, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, defendeu a megaoperação policial realizada no Complexo do Alemão e da Penha, na Serra da Misericórdia, que resultou na morte de 117 pessoas. Segundo o governador, o Rio de Janeiro “não enfrenta criminalidade comum”, mas sim “organizações armadas que atentam contra a democracia brasileira”.
“O Brasil inteiro está vendo uma ação organizada e violenta que ataca a vida das pessoas e tenta impor medo como forma de dominação. Foi uma operação necessária para acabar com o terror que acontece na vida das pessoas todos os dias”, afirmou Castro durante a entrevista.
A ação, considerada uma das maiores do estado nos últimos anos, envolveu as principais forças de segurança fluminenses, como o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
Durante a entrevista, o programa questionou o governador sobre as 117 mortes registradas e possíveis excessos cometidos pela polícia. Cláudio Castro negou que tenha havido abuso por parte das forças de segurança.
“Não, pois foram 113 presos que se renderam e se entregaram à Justiça, onde vão responder o processo devido legal. E os que morreram enfrentaram as duas maiores forças de segurança mais bem preparadas do país, o Bope e a Core”, respondeu o governador.
Segundo dados do governo estadual, dos 117 suspeitos mortos, 115 já foram identificados. Entre eles, 88 tinham antecedentes criminais e 62 eram de outros estados.
O objetivo da operação era conter o avanço do Comando Vermelho e cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão, sendo 30 expedidos pelo estado do Pará, parceiro na operação.
“A Justiça não conseguia cumprir o dever, pois os criminosos portavam fuzis e ameaçavam oficiais de justiça. Essa operação foi necessária para permitir que o Estado voltasse a exercer sua autoridade dentro dos complexos”.
As forças policiais também relatam que o avanço nas comunidades foi dificultado por barricadas e emboscadas. A Secretaria de Segurança Pública informou que dezenas de armas de grosso calibre e grande quantidade de munição foram apreendidas.
O saldo da operação também inclui quatro policiais mortos — dois civis e dois militares — e quinze feridos, três deles em estado gravíssimo. Entre os feridos está o delegado adjunto da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Leonardo Leal, que teve parte da perna amputada após ser atingido por disparos.
Além dos agentes, quatro civis foram atingidos por balas perdidas. Um homem em situação de rua e outro que trabalhava em um ferro-velho continuam internados. Em um bairro vizinho, uma mulher foi baleada dentro de uma academia e já recebeu alta. O mototaxista João Paulo foi atingido no pé enquanto trabalhava.
O governador reforçou que o Estado “não vai recuar” diante da criminalidade armada. “O Rio de Janeiro não vai retroceder. Continuaremos enfrentando ainda mais, derrubando barricadas, tirando armamentos. Quem portar armamentos de guerra está cometendo um atentado contra a democracia”, disse.
Cláudio Castro destacou ainda que as ações policiais seguirão o planejamento das forças de segurança, mas admitiu que o desafio é conciliar o combate ao crime organizado com a preservação de vidas. “Nenhum policial sai de casa querendo matar. Mas não podemos permitir que bandidos com armas de guerra dominem territórios e imponham o medo à população”, completou.
A megaoperação dividiu opiniões entre especialistas em segurança pública, políticos e entidades de direitos humanos. Críticos apontam o alto número de mortes como indício de possíveis violações e questionam a efetividade desse tipo de abordagem para reduzir a violência.
Organizações civis pedem que o Ministério Público do Rio investigue a conduta das forças policiais e avalie se houve desproporcionalidade no uso da força. Já aliados políticos de Cláudio Castro defendem que a operação representa uma resposta necessária do Estado diante da escalada do poder das milícias e facções armadas.
O governo estadual ainda não divulgou o balanço final da operação nem detalhou o número de armas e drogas apreendidas.
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