
Rio de Janeiro — O delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Vinicius Domingos, divulgou nas redes sociais imagens do impressionante arsenal de guerra apreendido durante a megaoperação realizada na última terça-feira (28/10), considerada a mais letal da história do estado. Segundo ele, o material passa agora por uma minuciosa análise técnica na Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos (CFAE) da corporação.
“No momento, o CFAE está analisando os fuzis apreendidos, que em seguida serão enviados à perícia”, explicou Domingos em vídeo publicado em suas redes.
De acordo com o delegado, a análise preliminar revelou a diversidade do armamento apreendido nas comunidades dominadas pelo Comando Vermelho (CV), especialmente nos complexos do Alemão e da Penha. Entre as armas, há exemplares de diferentes origens e modelos consagrados no cenário militar mundial.
“Encontramos 11 fuzis G3, de fabricação alemã; 13 FALs, de origem belga; e 16 AK-47, russos. O restante é composto por modelos da plataforma AR, de origem americana”, detalhou o delegado.
No entanto, o que mais chamou a atenção dos investigadores foi a constatação de que mais de 90% dos fuzis da plataforma AR são falsificados. “Chamou a atenção que a maior parte dos fuzis da plataforma AR — mais de 90% — são cop fakes, ou seja, falsificados”, destacou Domingos.
O material bélico apreendido revela o poder financeiro e logístico do Comando Vermelho. Ao todo, 91 armas longas foram encontradas nas mãos da facção, um número que, segundo estimativas da própria Polícia Civil, ultrapassa R$ 5,4 milhões em valor de mercado.
As armas estavam distribuídas entre diversas comunidades controladas pelo grupo criminoso e, segundo os investigadores, o volume de armamento apreendido é um dos maiores já registrados em uma única ação policial no Rio de Janeiro.
Fontes da corporação afirmam que parte das armas falsificadas pode ter sido adquirida no mercado paralelo internacional e posteriormente modificada para uso real. Esse tipo de falsificação, cada vez mais comum, é montado a partir de peças e plataformas de baixo custo, muitas vezes importadas de forma ilegal.
A operação, que envolveu centenas de agentes da Polícia Civil, foi planejada para enfraquecer o arsenal e o poder de fogo do Comando Vermelho em regiões de forte domínio da facção. Apesar dos resultados expressivos em apreensões, a ação também ficou marcada pela alta letalidade, sendo considerada a mais violenta da história fluminense.
As investigações seguem em andamento para identificar a rota de entrada dessas armas no estado e os responsáveis pelo comércio ilegal. Segundo a Polícia Civil, há indícios de que o armamento tenha vindo de diferentes países da América do Sul, passando por fronteiras terrestres e marítimas até chegar às mãos dos criminosos.
Com a análise técnica em curso, os peritos deverão identificar a origem exata, o calibre, os números de série e as modificações feitas em cada uma das armas. O resultado da perícia será crucial para traçar o caminho percorrido pelo armamento e compreender o alcance da rede de tráfico internacional envolvida.
A CFAE deve concluir o relatório pericial nas próximas semanas, e o material será encaminhado às delegacias especializadas que integram a força-tarefa de combate ao crime organizado.
Segundo o delegado Vinicius Domingos, o trabalho de rastreamento é fundamental para entender como armas de uso restrito continuam chegando às mãos de facções. “Essas apreensões mostram o tamanho do desafio que enfrentamos. Mesmo com grandes operações e investigações contínuas, o tráfico de armas segue alimentando o crime no Rio de Janeiro”, afirmou.
Nas redes sociais, as imagens dos fuzis apreendidos tiveram ampla repercussão, despertando debates sobre o controle de armas e a eficiência das fronteiras brasileiras. Especialistas em segurança pública destacam que a descoberta de um arsenal desse porte — com presença significativa de armas falsificadas — reforça a urgência de políticas mais rígidas de fiscalização e rastreamento de armamentos.
Para o sociólogo e pesquisador de segurança pública Paulo Ramos, o episódio evidencia uma “nova fase do tráfico de armas”, em que as facções combinam armamentos originais e réplicas funcionais para reduzir custos e manter o poder de fogo. “A presença de cópias falsificadas mostra a criatividade das organizações criminosas diante das restrições de importação e das operações policiais”, analisou.
Enquanto a Polícia Civil avança na investigação, o foco agora é mapear os intermediários e fornecedores que abastecem as quadrilhas cariocas, com o objetivo de interromper a cadeia de fornecimento.
Mín. 19° Máx. 32°