
Dias após a deflagração da Operação Contenção, uma das maiores e mais letais ações policiais da história recente do Rio de Janeiro, os governos da Argentina e do Paraguai anunciaram o reforço imediato da segurança em suas fronteiras com o Brasil. A medida foi adotada em resposta ao temor de que integrantes do Comando Vermelho (CV), alvo principal da operação, tentem escapar do país.
A decisão foi confirmada pela ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, que afirmou, em suas redes sociais, que o aumento do patrulhamento é “uma medida preventiva”.
“Reforçamos [a segurança na] fronteira para proteger os argentinos diante de qualquer debandada [de criminosos] resultante dos confrontos no Rio de Janeiro”, escreveu Bullrich.
A ministra divulgou cópia do ofício enviado à secretária de Segurança Nacional, Alejandra Monteoliva, determinando o envio de mais tropas federais para a fronteira com o Brasil. No documento, Bullrich classifica os membros do Comando Vermelho como “narcoterroristas” e orienta os comandantes locais a estreitarem o contato com autoridades brasileiras e paraguaias.
Brasil, Argentina e Paraguai já mantêm um acordo de cooperação policial na região da Tríplice Fronteira, que envolve a atuação conjunta de forças dos três países. O Comando Tripartite, criado para integrar ações de segurança, foi o primeiro a emitir um alerta sobre o risco de fuga de criminosos brasileiros.
A partir desse aviso, o governo paraguaio decidiu adotar medidas extraordinárias de vigilância, segundo informou o Conselho de Defesa Nacional (Codena) em comunicado divulgado na quarta-feira (29).
“Diante desta situação, desde as primeiras horas da última terça-feira (28), as instituições nacionais [paraguaias] de segurança competentes adotaram medidas extraordinárias de prevenção e vigilância em toda a fronteira”, explicou o Codena.
De acordo com o órgão, as ações incluem o reforço de efetivos policiais e militares, checagem intensiva de veículos e pedestres e controle migratório mais rígido em pontos estratégicos.
Deflagrada na segunda-feira (28), a Operação Contenção mobilizou 2,5 mil policiais civis e militares nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio. O balanço mais recente aponta 120 mortos, entre eles quatro policiais, além de 113 prisões e apreensão de 118 armas e uma tonelada de drogas.
Segundo o governo do estado, o objetivo da operação foi “conter o avanço do Comando Vermelho” e cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 de prisão, sendo 30 expedidos pela Justiça do Pará.
O governador Cláudio Castro classificou a ação como “um sucesso”, afirmando que todos os mortos “reagiram à abordagem policial”. Entretanto, moradores e organizações de direitos humanos denunciam o episódio como “a maior chacina do estado em 15 anos”.
Imagens divulgadas por moradores mostram corpos sendo carregados por civis, além de vítimas com sinais de execução. Nas redes sociais, parentes das vítimas relataram desaparecimentos e cadáveres encontrados degolados em áreas de mata próximas aos locais de confronto.
A repercussão da operação no Rio de Janeiro ultrapassou as fronteiras brasileiras. Autoridades argentinas e paraguaias expressaram preocupação com a possível migração de criminosos e com o impacto do tráfico internacional de drogas e armas na região.
A ministra Patricia Bullrich destacou que a violência nas favelas cariocas tem reflexos diretos no crime organizado transnacional, já que o Comando Vermelho mantém ramificações em países vizinhos, especialmente no Paraguai e na Bolívia, que são corredores do tráfico de entorpecentes.
“É fundamental que as forças de segurança da região atuem de maneira coordenada para enfrentar o narcoterrorismo que ameaça nossas fronteiras”, afirmou a ministra.
Especialistas em segurança pública apontam que a Tríplice Fronteira é historicamente um ponto vulnerável ao tráfico e à lavagem de dinheiro, o que facilita o trânsito de integrantes de facções brasileiras.
Organizações de direitos humanos voltaram a cobrar investigação independente sobre a operação no Rio e responsabilização por execuções extrajudiciais. A Anistia Internacional Brasil afirmou, em nota, que a ação demonstra “a falência da política de segurança pública baseada no confronto armado”.
Para o Instituto Fogo Cruzado, o número de mortos e a forma como os confrontos ocorreram “reforçam a lógica de guerra nas favelas”, onde moradores são os mais afetados pela violência.
Já a Secretaria de Segurança Pública do Rio declarou que “todas as mortes serão investigadas” e que “o objetivo foi desarticular quadrilhas fortemente armadas que ameaçavam a segurança da população”.
Com o reforço das fronteiras, as forças de segurança dos três países devem realizar operações conjuntas nas próximas semanas. Fontes diplomáticas informam que uma reunião emergencial do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira está sendo organizada para discutir estratégias integradas de combate ao crime organizado.
Autoridades argentinas e paraguaias consideram essencial compartilhar informações de inteligência sobre rotas de fuga e movimentação de líderes da facção, especialmente após relatos de que criminosos do CV estariam tentando se esconder em regiões de fronteira.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro segue sob alerta máximo de segurança, com o governo estadual prometendo manter o policiamento reforçado nos complexos da Penha e do Alemão para impedir novas ofensivas criminosas.
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