
Um cenário digno de ficção científica está prestes a se tornar o mais novo cartão-postal do turismo goiano. No município de Campos Belos, no Nordeste de Goiás, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriram as primeiras “chaminés de fada” do Brasil — formações geológicas em que colunas de terra e rocha sustentam pedras arredondadas no topo, criando figuras que lembram torres naturais.
Com até três metros de altura, as estruturas chamaram a atenção não apenas pela beleza, mas também pela raridade. Fenômenos semelhantes são encontrados em poucos lugares do planeta, como na Capadócia (Turquia), nos Alpes franceses e em regiões desérticas dos Estados Unidos.
Nesta quinta-feira (9/10), técnicos da Goiás Turismo visitam a fazenda onde as formações foram encontradas. O objetivo é colher informações detalhadas e avaliar a possibilidade de incluir Campos Belos no Mapa do Turismo Brasileiro, o que permitiria à cidade receber investimentos federais e estaduais para desenvolver infraestrutura turística.
O presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves, reforça que o desafio é equilibrar o desenvolvimento regional com a conservação ambiental.
“O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) já fez uma avaliação preliminar para que a área se torne uma unidade de conservação. Esse passo é importante para que preservemos as formações rochosas. O turismo precisa ser sustentável”, pontuou Naves.
“Venho discutindo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semad) projeto para desenvolver a região, que fica próxima à Terra Ronca”, acrescentou.
Segundo o turismólogo Luciano Guimarães, integrante da equipe técnica que visita Campos Belos, o local ainda não está aberto ao público. Ele ressalta que, antes de receber visitantes, a área precisa de planejamento e infraestrutura adequados.
“Por enquanto, é um recurso natural, não um produto turístico”, explica. “É preciso investir em acessibilidade, sinalização, hospedagem, alimentação e guias capacitados. Só com essa estrutura é que o atrativo pode ser comercializado.”
A criação de uma rota turística integrando as chaminés de fada a outros atrativos da região, como o Parque Estadual de Terra Ronca e as cachoeiras do entorno, é uma das propostas em discussão.
De acordo com a geóloga Joana Paula Sanchez, as formações são resultado de um processo chamado erosão diferencial, no qual camadas de rocha mais dura protegem o material mais frágil abaixo delas, que se desgasta com o tempo.
“Elas precisam de um contexto muito específico para existir. Tamanhos assim são bastante raros, ainda mais espalhados por uma área grande”, afirmou Sanchez, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Essas torres naturais, também conhecidas como demoiselles — palavra francesa que significa “moças” —, se formam ao longo de milhares de anos. A combinação de condições geológicas e climáticas ideais faz das “chaminés de fada” de Campos Belos um achado de grande relevância científica.
Com a descoberta, Campos Belos passa a atrair o interesse não apenas de turistas, mas também de pesquisadores e universidades. O fenômeno pode consolidar o município como polo de turismo científico e de natureza no Cerrado.
A inclusão da cidade no Mapa do Turismo Brasileiro representaria um passo importante nesse processo, permitindo o acesso a recursos federais e a capacitação de profissionais do setor.
Enquanto isso, os estudos da UFG continuam, buscando compreender a origem e a idade das formações. A expectativa é de que os resultados sejam publicados até o fim do ano, fortalecendo o reconhecimento do local como patrimônio geológico nacional.
O principal desafio agora é garantir que o turismo na região se desenvolva de forma responsável. Especialistas defendem que o modelo a ser seguido é o do turismo sustentável, com limite de visitação e programas de educação ambiental.
“Precisamos evitar o turismo predatório. As chaminés são frágeis e podem ser danificadas com facilidade”, alerta o turismólogo Luciano Guimarães. “Mas, com planejamento, elas podem gerar renda e promover o desenvolvimento local sem comprometer o patrimônio natural.”
Para o governo estadual, o surgimento das “chaminés de fada” é uma oportunidade única de mostrar ao Brasil e ao mundo que Goiás vai além das cavernas e das serras já conhecidas.
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